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Grande Travessia do Norte em BTT

17 de março, 2019

Estávamos nos idos de Abril 2013, numa altura em que a roda tamanho 26 ainda era a norma e as 29er eram vistas como uma excentricidade. Uma altura em que a ideia de uma transmissão 1x12 provavelmente só circulava pelos corredores mais confidenciais dos gabinetes da SRAM. Uma altura em que o V-Brake estava a terminar o seu reinado glorioso com a certeza que deixava uma geração de kits de unhas muito bem afinadinhos. Recordo com saudade os sábios dizeres:

“Tenho em fé, o que me falta em poder de travagem.”

E foi com uma boa dose de fé, e inocente desconhecimento, que três jovens - eu, Leonardo e Tiago - se lançaram em Abril de 2013 num percurso com início em Caminha e final em Bragança, uma rota não-oficial construída com base numa colagem de vários tracks GPX. Tudo em 7 dias, 7 etapas meticulosamente delineadas com passagens em pontos estratégicos, com a esperança que nada falhasse. Mas isso seria bom demais e tirava a piada toda. A essa epopeia chamaram de:


A GRANDE TRAVESSIA DO NORTE


Dia 1, Caminha - Arcos de Valdevez

Percurso dia 1

Distância: 85kms
Desnível positivo: 1800m D+

A primeira etapa, sendo a mais próxima do litoral, não parecia antecipar aquilo que íamos passar. Sendo uma das mais longas seria importante estar bem hidratado e alimentar-se bem e constantemente. Connosco levávamos barras e géis energéticos suficientes para grande parte dos dias da viagem e uma sanduíche e algumas peças de fruta para todo o dia. Por si, não seria suficiente, pelo que contávamos comprar o restante ao longo do caminho, em cafés e mini-mercados.

Saímos de Caminha pelas 9h00 da manhã e passadas algumas horas, enquanto atravessávamos a Serra d’Arga, discutíamos entre nós o facto de não termos visto mais do que 2/3 pessoas desde que tínhamos começado. Depois de termos almoçado a sanduíche e quase não termos mais do que barras e géis, estava claro que teríamos que comprar comida e bebidas. O dia era de céu limpo e fazia-se sentir algum calor primaveril que acentuava a necessidade de sal e açúcar, de preferência na forma de uma sandes de presunto com Coca-Cola.

O que não esperávamos era que todos (mesmo TODOS!) os cafés de aldeia por onde passamos estivessem fechados. Um desvio para procurar comércio local que estivesse aberto estava fora de questão. O cansaço começava a acumular-se bastante, pelo que qualquer desvio para procurar comida poderia ser um tiro no pé. Decidimos continuar e “sobreviver” à custa das barras e géis que trazíamos connosco. Ao fim de algumas horas causavam mais enjôos do que revigoravam.

A subida até ao Corno de Bico foram cinco quilómetros bastante penosos. Quem se deparasse connosco facilmente imaginava 3 zombies em cima de bicicletas. Muito lentamente chegamos ao topo, mas ainda tínhamos cerca de quinze quilómetros até Arcos de Valdevez, embora praticamente sempre a descer. Uma pena que de tão desgastados que estávamos nem conseguimos aproveitar os excelentes trilhos daqueles primeiros quilómetros, mas só queríamos chegar ao fim.

Já o sol tinha desaparecido no horizonte (!) quando chegamos a Arcos de Valdevez. Completamente desgastados, custou bastante sair do quarto de hotel para jantar. Provavelmente pensarão que comemos tudo o que nos apareceu à frente, mas uma dieta à base de açúcares processados deixou-nos a todos tão enjoados que mal conseguimos comer o bife apetitoso que nos serviram. Correu tudo tão mal neste dia, que até o jantar nos deixou de rastos.

Se há lição que tiramos deste dia, é que nada se pode dar como garantido. Algo que aprendemos rapidamente e que iríamos corrigir no imediato. Afinal, ainda faltavam seis dias…

A rodear a Serra d'Arga.
A rodear a Serra d'Arga.

Hot-spot verde.
Hot-spot verde.

Leonardo à luta com a orientação do GPS.
Leonardo à luta com a orientação do GPS.


Dia 2, Arcos de Valdevez - Castro Laboreiro

Percurso dia 2

Distância: 62kms
Desnível positivo: 1750m D+

Dormimos como uma pedra. No hotel tomamos um pequeno-almoço bem reforçado e mal começamos a pedalar decidimos fazer um pequeno desvio na rota. O destino: um supermercado. Estávamos decididos a não cometer os erros do dia anterior. Decidimos assumir o peso extra nas mochilas e compramos mantimentos suficientes para vencer aquele dia, sem necessidade de depender de terceiros.

A rota para este dia começava com uma longa subida de 25 quilómetros, quase 20 em asfalto, até à Porta do Mezio do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). A parte final da subida e grande parte da travessia do planalto da Serra da Peneda, foi em trilhos de terra batida com muita pedra solta.

Tendo em conta o dia anterior, a dose extra de energia necessária para ultrapassar este tipo de terreno fez bastante falta. A verdade é que fazer esta viagem foi uma escolha nossa. Desistir e voltar para casa estava à distância de um telefonema. Contudo, qualquer sinal de desânimo era sempre seguido por um de nós a perguntar alto e bom som:

“Preferes estar aqui a sofrer, ou enfiado entre quatro paredes no escritório?”

Poucas vezes respondíamos, mas também não seria necessário. Depois desse momento, todos paravam de se queixar e isso, por si só, respondia à pergunta.

Não há que enganar, para o Gerês é seguir o verde e os picos.
Não há que enganar, para ir em direcção ao Gerês é seguir o verde e os picos.

Às portas do PNPG.
Às portas do PNPG.

Bosques das Portas do Mezio.
Bosques das Portas do Mezio.

Não estava calor, mas provavelmente também não seria boa ideia entrar.
Não estava calor, mas provavelmente também não seria boa ideia entrar.


Dia 3, Castro Laboreiro - Tourém

Percurso dia 3

Distância: 72kms
Desnível positivo: 1450m D+

Inicio o relato deste dia com a conclusão: foi um dos dias mais fantásticos que já tive em cima de uma bicicleta. Tenho a confiança absoluta em afirmar que os meus companheiros de viagem concordam comigo, pois é um dia que ainda hoje recordamos com muita saudade e, alegadamente, com uma lágrima no canto do olho.

De Castro Laboreiro a Lobios, já no outro lado da fronteira, atravessamos um belíssimo planalto com trilhos em terra batida super-lisos e rolantes (nada de pedra solta a atrapalhar!) onde se conseguia rodar, rodar e rodar só com o ar frio da montanha a bater na cara. O planalto era lindíssimo, vasto, cheio de gado a pastar calmamente. Cruzamo-nos com poucas pessoas, que em vez de nos receberem de caçadeira na mão por sermos obrigados a abrir as cercas do gado para seguir caminho, ali no meio do “nada” simplesmente nos recebiam com enorme simpatia e com palavras de encorajamento.

A chegada a Lobios foi precedida de uma descida brutal: trilhos loucos, curva e contra-curva, terra batida por vezes quase sem pedras a pedir para largar os travões. Foi, literalmente, de ajoelhar e agradecer aos deuses por tanta diversão. À saída de Lobios, seguimos por uma subida em asfalto perfeito e super suave, cheia de switchbacks por vezes a lembrar uma etapa de montanha das grandes voltas. Estaríamos a ter um dia tão perfeito que até dava gosto fazer subidas em asfalto?

No Parque Natural Baixa Limia, “irmão” galego do PNPG, encontramos ainda mais trilhos fantásticos, com destaque para um pinhal denso que fazia lembrar os filmes de BTT rodados na costa Oeste dos Estados Unidos. Deveria ter pouco mais de um quilómetro, mas foi absolutamente louco ao ponto de querermos voltar para trás e fazer de novo. Em retrospectiva, foi bom termos poupado essa energia. Os quilómetros finais até Tourém contornavam a albufeira de Salas, um imenso lençol de água onde o sol do final de tarde reflectia os últimos raios de luz de um dia memorável.

O melhor estava para chegar. Chegados a Tourém fomos tremendamente bem recebidos e muito bem instalados no turismo rural “Casa dos Braganças”. Para jantar recomendaram-nos um “restaurante familiar muito humilde e simples”, mas a verdade é que o jantar no Café Restaurante “Os Morgados” foi absolutamente divinal: um gigantesco e delicioso bife frito de carne da região, acompanhado de uma travessa repleta de batatas acabadas de fritar. A moral estava tão alta que até uma garrafa de vinho acompanhou o jantar, com um delicioso leite-creme como remate final.

O percurso, a paisagem, os trilhos e até as estradas, mas mais do que isso, as pessoas. Toda e qualquer pessoa que encontramos neste dia foi de uma simpatia inexcedível. Castro Laboreiro a Tourém é um dia que deixa muitas saudades.

A vida em Castro Laboreiro.
A vida em Castro Laboreiro.

O glorioso planalto de Castro Laboreiro.
O glorioso planalto de Castro Laboreiro.

A paisagem incrível que nos rodeava não dava para menos do que sorrisos e abraços.
A paisagem incrível que nos rodeava não dava para menos do que sorrisos e abraços.

O prazer de descobrir novos pequenos paraísos de BTT.
O prazer de descobrir novos pequenos paraísos de BTT.

Em Lobios.
Em Lobios.

Estradas gloriosas no Parque Natural Baixa Limia.
Estradas gloriosas no Parque Natural Baixa Limia.

Na albufeira de Salas.
Na albufeira de Salas.

Plano geral da albufeira de Salas.
Plano geral da albufeira de Salas.


Dia 4, Tourém - Vilar de Perdizes

Percurso dia 4

Distância: 61kms
Desnível positivo: 1260m D+

O percurso para esta etapa começava por seguir para sudoeste. Íamos pedalar para “trás”, em vez de seguir na direcção de Bragança, propositadamente para visitar a aldeia de Pitões de Júnias.

Saímos de Tourém por entre um silêncio apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros nos pequenos bosques e pelas sinetas do gado nos enormes prados. Contudo, seriam 6 quilómetros quase sempre a subir, que faziam com que por vezes a respiração ofegante, o típico som do masoquismo velocipédico, por vezes se sobrepusesse ao canto dos passaritos. A subida, apesar de dura, recompensava-nos com uma panorâmica sobre a albufeira e toda a sua envolvência.

Ao descer uma estrada de terra batida junto a um prado, deparamo-nos com uma manada de cavalos selvagens. Ao notarem a nossa presença galoparam pelo prado fora, embora afastados seguiam sempre a nosso lado, enquanto pedalávamos. Foi um momento que ficará na memória como épico, inesquecível e digno de filme. Eram momentos como este que definiam a nossa viagem.

A pitoresca e altamente recomendável aldeia de Tourém.
A pitoresca e altamente recomendável aldeia de Tourém.

A tentar não perturbar os habitantes locais.
A tentar não perturbar os habitantes locais.

Sobe-se, mas por gosto.
Sobe-se, mas por gosto.

Dizem que é tradição chegar a Pitões das Júnias sem as mãos no guiador.
Dizem que é tradição chegar a Pitões das Júnias sem as mãos no guiador.

Ainda se sobe, com o mesmo gosto.
Ainda se sobe, com o mesmo gosto.

A manada que nos acompanhou uma centena de metros.
A manada que nos acompanhou uma centena de metros.


Dia 5, Vilar de Perdizes - Chaves

Percurso dia 5

Distância: 51kms
Desnível positivo: 570m D+

Para este dia teríamos de percorrer apenas 51 quilómetros com pouco mais de 500 metros de desnível positivo. Íamos regressar à selva urbana, à grande metrópole de Chaves. Aproveitaríamos a estadia na cidade para fugir um pouco da rotina dos dias anteriores e para nos reabastecermos de bens que não tivemos acesso nas pequenas localidades onde ficamos (muito bem) instalados. Mas nunca adivinhara que levaria tão boas memórias desta cidade.

O percurso não tinha grandes dificuldades. Seguimos por caminhos de terra batida embelezados pelo ambiente primaveril, numa montanha russa de trilhos rolantes. Em pouco mais de 4 horas chegamos a Chaves. Comparando com os dias anteriores, foi como sair de casa para ir comprar pão.

Terminada a etapa mais cedo que nos dias anteriores, e com o intenso calor que se fazia sentir (30ºC, em Abril!), a primeira paragem foi numa esplanada para recuperar forças à base de cachorros, tostas de presunto e ovo e cervejas.

Com tempo de sobra, aproveitamos para tratar de assuntos logísticos: uma paragem numa farmácia para repôr stock de protector solar e outra na Street Bikes para reparar um raio partido na bicicleta do Leonardo. A amabilidade, a simpatia e disponibilidade das gentes de Chaves foi visível em todo o lado, mas especialmente na fabulosa recepção que tivemos em casa dos tios do Leonardo, onde iríamos passar a noite. Simplesmente não há palavras para agradecer o quão à vontade nos deixaram e o conforto que nos proporcionaram. Ao fim de cinco dias de longas horas em cima da bicicleta, foi um bálsamo muito bem vindo para o corpo e para a moral.

Concentração à saída de Vilar de Perdizes.
Concentração à saída de Vilar de Perdizes.

Estradas de Vilar de Perdizes.
Estradas de Vilar de Perdizes.

Um lamaçal, a única dificuldade até Chaves.
Um lamaçal, a única dificuldade até Chaves.

A Primavera no seu auge.
A Primavera no seu auge.


Dia 6, Chaves - Vinhais

Percurso dia 6

Distância: 80kms
Desnível positivo: 2500m D+

O dia anterior trouxe-nos um boost enorme, mas na verdade ainda nos faltavam dois longos e duríssimos dias a pedalar. E para este dia esperava-nos a etapa rainha, um sobe e desce constante a totalizar cerca de 2500 metros de desnível positivo que prometia levar-nos ao limite. E quase conseguiu.

A verdade é que há sempre algo que nos eleva o espírito. Entre cada subida havia sempre uma recompensa: chegados ao alto das montanhas podíamos respirar de alívio por vencer mais uma subida enquanto se apreciava a paisagem; ou, no fundo dos vales antes de cada subida onde se encontravam pequenos paraísos atravessados pelos rios que configuravam o local ideal para recuperar forças.

Mesmo assim foi um dia muito longo. As subidas finais foram vencidas com algum sacrifício, mas mal sabíamos que a pior de todas estava para chegar.

Chegamos a Vinhais perto do final da tarde. A vila estava praticamente deserta, não se via quase ninguém nas ruas, mas com alguma sorte encontramos um supermercado quase a fechar. Neste dia não tivessemos a sorte do dia anterior, e teríamos mesmo que comprar alguns mantimentos para cozinhar o nosso jantar. O problema é que teríamos de carregar os mesmos connosco nas bicicletas até ao alojamento no Parque Biológico de Vinhais, onde tínhamos alugado um bungalow para a noite.

Só não adivinhamos que até ao Parque Biológico de Vinhais eram quatro quilómetros sempre a subir desde a vila. Que teriam de ser feitos a pedalar. Depois de mais de 70 quilómetros de viagem… E com sacos de plástico (cheios) pendurados nos guiadores da bicicleta…

Foi um alívio enorme quando chegamos ao Parque, mas ainda teríamos de sofrer mais um pouco. Naquele final de tarde, em que já sentia algum frio apesar do dia de calor, tivemos mesmo de tolerar mais 10 minutos de espera até que alguém nos abrisse o portão para podermos entrar.

Encontrem a bicicleta.
Encontrem a bicicleta.

A pedalar no meio dos prados.
A pedalar no meio dos prados.

Um dos topos das pequenas montanhas que tivemos de vencer neste dia.
Um dos topos das pequenas montanhas que tivemos de vencer neste dia.

Delícia de trilho!
Delícia de trilho!

Ao fundo dos vales, a recompensa.
Ao fundo dos vales, a recompensa.

Depois da recompensa, as subidas.
Depois da recompensa, as subidas.

Podemos fraquejar, mas nunca atirar a toalha ao chão.
Podemos fraquejar, mas nunca atirar a toalha ao chão.

Não houve outra escolha senão o transporte improvisado das compras no guiador.
Não houve outra escolha senão o transporte improvisado das compras no guiador.


Dia 7, Vinhais - Bragança

Percurso dia 7

Distância: 77kms
Desnível positivo: 1800m D+

Foi-me muito difícil sair da cama, embora tenha dormido como uma pedra depois de ter comido quase metade da panela de esparguete que o Leonardo cozinhou brilhantemente ao jantar na noite anterior.

Seria o último dia de viagem, embora ainda faltasse mais uma etapa algo dura. De facto o cansaço acumulado já se fazia sentir consideravelmente. Pedalava em piloto automático, quase a dormir em cima da bicicleta, felizmente sem grandes consequências. Teríamos apenas que aguentar mais umas horas e estava feito, mas confesso que estava a ser realmente difícil despertar.

Até que uma visão familiar surgiu perante o Leonardo. Estavámos numa aldeia onde outrora tinha vivido a sua mãe e não tardaram a aparecer algumas caras conhecidas. E com isso a generosidade, na forma da oferta de um pão caseiro, presunto e um chouriço. No café da aldeia compramos Coca-Cola para complementar este segundo pequeno-almoço e finalmente se fez luz. Um rasgo de energia que só os enchidos e a Coca-Cola podem oferecer. O dia transformou-se e de repente, despertei.

Até Bragança havia que vencer algumas subidas que, não sendo extramente difíceis, o cansaço acumulado já não ajudava a vencer com o mesmo vigor. Mas quando finalmente avistamos a cidade, esquecemo-nos de todas as dores: das pernas, dos braços, do rabo e dos ombros, também um pouco massacrados por termos optado por mochilas em vez de alforges.

À noite, à mesa d’O Careto, acompanhados de uma deliciosa posta mirandesa e vinho tinto, recordamos e celebramos as inúmeras histórias desta viagem extenuante mas muito gratificante, que mostra a realidade e a verdadeira beleza do Norte de Portugal. Podiam ser apenas as paisagens, mas na realidade foram as pessoas que mais nos surpreenderam.

A Grande Travessia do Norte é uma rota não oficial, mas talvez esteja aqui a base de um percurso a explorar. Nós só podemos recomendar.

O planalto transmontano.
O planalto transmontano.

Revigorante pequeno-almoço à transmontana.
Revigorante pequeno-almoço à transmontana.

Túnel natural.
Túnel natural.

Bragança à vista.
Bragança à vista.

Abençoada chegada a Bragança.
Abençoada chegada a Bragança.


José Brito
Imagens e palavras por José Brito.
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